quarta-feira, setembro 12, 2007

Ah Joshua!



Eu acho que precisaria de uma semana pra saber o que dizer do show do Joshua, ontem no Bourbon Street.

"Hoje eu quero apenas, uma pausa de mil compassos...."

Era um trio. Baixo acústico, bateria e saxofone tenor.

O baterista era negro, baixo e conversava no bar quando chegamos para o segundo set da noite. Passei por ele e senti. Mas não sabia de nada ainda.

O cara quebra, por favor alguém me lembre o nome dele, pois fiquei hipnotizado.

Ele olha pro lado e quebra! Com um piercing na sobrancelha e a boca aberta, saboreando suas divisões precisas do tempo. Não que ele divida o tempo, ele quebra. Ele faz o tempo parar se quiser. Nossa senhora.

O baixista era outra aparição. Branco, alto, podia estar disfarçado entre o público do bourbon. Mas de repente... fez um solo, dois, três ... e tocava, tocava, como quem contava uma prosa. E todos entendiam. Este olhava para baixo, pro baixo, pras cordas. E pro Joshua. Quem mais entendia suas frases e parecia por vezes incrédulo.

Não entendi o seu nome.

E ele. Ah.... Ele.

Alto, magro, mulato de olhos verdes?! Dando joelhadas no ar, como quem não aguenta o groove do que está tocando, sentindo, pensando. Ele pensa? Acho que não, ele vibra ele exala música. Mas parecia compreender cada nuance dos improvisos da sua banda.

Quando de cada solo, ele compartilhava com frases curtas e olhar atento ao músico.

A cada nota, ele mexia o rosto, como sendo estapeado pelo baixo ou pela bateria. Fazia uma cara de dúvida quando era surpeendido por uma sequencia de notas, mas logo depois sorria e parecia dizer: "Ah! Entendi. Você me surpreendeu, mas eu entendi."

O espaço do improviso. O baterista olhava e avisava com o olhar que faria algo diferente, pedindo mais 4 compassos, pois iria fazer algo fora do "script".

Ele olhava e dizia com o olhar: Por quê?

E o Baterista respondia com as mãos, numa sequencia impressionante de notas: Por isso.

E ele dizia: Ah! entendi.

Eles cruzavam os olhos.

Na platéia, meus olhos choravam.

E o baixista não olhava para os dois, coisa de quem domina o que está fazendo e que não se surpreende com pouco. Coisa de quem não se importa se aquela passagem terá 4 ou 16 compassos, ou se vai ser tercinada ou transposta.

Mas estapeava nossa cara, e a do joshua com seu baixo.

O show teve alguns momentos únicos. Primeiro, um solo de bateria cênico, no qual o Joshua tentava penetrar com seu saxofone mas era impedido por mais uma virada do baterista. Foi demais.

Tocou uma do Thelonious Monk.

Depois Soul Dance, no sax soprano. Pára tudo.

Depois, ele tocou uma música muito funkeada, e além de tudo, tocou fazendo percussão com a boca na palheta do sax. Enquanto tocava, marcava o ritmo com a palheta que fazia um som surdo.

Pior pra palheta que quebrou, se soltou, e não queria mais trabalhar. Foi trocada. Ficou longe dele.

Nossa senhora, nem sei mais o que dizer. Mas guardei o melhor para o fim.

Acabou o show, ele fica 10 minutos descansando no camarim e vem para a platéia atender a todos, de uma maneira solicita, educada, simpática, suada.

Tirei uma foto com ele, duas, porque a primeira ficou ruim feita com a câmera de um músico.

Peguei o seu autógrafo, abracei-o (apenas nas fotos) e fui tiéte. Falei com ele, mas não tinha o que falar.

Falei apenas que ele era incrível, que eu não tinha palavras, que tinha sido a coisa mais incrível da minha vida.

Ele sorriu e me olhou no olho.

Sem homosexualismos, eu quase morri ontem.

Entrou para o hall dos melhores shows da minha vida, ao lado do Ibrahim Ferrer, com Buena Vista Social Club e do Terence Blanchard, no mesmo Bourbon Street.

Obrigado Joshua por existir, assim, tão de verdade, tão de perto.

Nenhum comentário: