quinta-feira, fevereiro 21, 2008

Pingos

Uma chuva torrencial que me atormenta e faz feliz

Devolva-me a água!

Deixe-me estar na tempestade e ser só ar.

Não estar com os pés no chão

e escutar os segredos dos pingos
dos relâmpagos.

Escritos pelas marcas no chão
histórias e devaneios do vento.

Agora ela veio de verdade.

Ah! relva como te ressentes
ao regozijar-se com essa chuva de torrentes.

Dos pingos brutos que a ti beijam
espancam-te, dançam contigo.

Não olha com quem conversa
não pede licença mas vem convidada.

Se anuncia com trompas e trombones
faz alarde e espalhafato

Se exaspera e se aquieta
deixando apénas sua aura azul.

E de sorrateira que és
faz a volta sem alarde.

Se instala em silêncio
e permanece por horas
enganando quem faz dela idéia pouca.

E de pouca água em pouca água
devolve-me o sabor da terra.

Finge ser pura inocência
mas resolve sua sina.

Infeliz do seco homem
que seus ares não respira,
cuja pele não atina,
cuja fronte é tão altiva,
que pragueja dessa vida,
e não olha mais pra cima.

terça-feira, fevereiro 12, 2008

A paz

Só encontraria a paz se a olhasse
Se a procurasse debaixo de tudo
Se me fossem dadas a calma e a distração
Que dão lugar ao ar
Limpo, usado, lento e incisivo
Se me fosse permitido tudo encher de luz
Para ver como as coisas são

Nada seria tão diferente
Mas eu estaria ali
Podendo ver novamente
E flagrar as coisas como são
Iguais ao que foram
E podendo ver novamente
Fechar, e abrir os olhos
Aos poucos
E ver novamente tudo
E flagrar os fatos que iluminam as coisas
Que as enchem de ar
E as tornam como sempre foram
Iguais mas nuas
Envergonhadas
De nada serem em si

Sem alguém para respirar seus ares venenosos
filtrá-los, absorvê-los
Molhá-los com outras vestes
Amá-los com novos olhares
Do fino bolor extrair a dor
E da firme dor o rancor
E ao implacável rancor
Aplicar o máximo transformador

E deixar sair o ar
E deixar entrar o ar
E olhá-lo novamente
Com olhar desarmado e triste

Para vê-lo ainda rancor
Com outros matizes
Outra opacidade
E deixar sair o ar

sexta-feira, fevereiro 08, 2008

Das coisas simples que só lá encontro

Eu gosto de lá por motivos simples, mas que no fundo são coisas importantes demais no momento.

Gosto de ver minhas plantas crescerem, centímetro a centímetro, e sofro quando uma delas não vai bem.

Gosto de ter o meu canto com meu computador e minhas músicas, onde me refugio para refletir, onde consigo desligar um pouco meu lado consciente e deixar algumas idéias brotarem.

Gosto de olhar para o meu armário e ver as gravatas penduradas em cabides, o que passa uma sensação inicial de precariedade, seguida de um aconchego até que organizado.

Gosto quando tenho camisas passadas e limpas para trabalhar no dia seguinte, e tenho muito a agradecer à minha mãe por isso.

Gosto de recolocar as pessoas nos lugares que elas ocupam no meus sentimentos, e estar lá me proporciona o distanciamento necessário para tal.

Gosto de ver a minha geladeira vazia, quando ela se enche de poucas coisas para logo esvaziar-se novamente.

Gosto de abrir as janelas e deixar o ar entrar, gosto de passar quatro horas do meu final de semana com rodo e vassoura na mão, pois a sensação de cuidar do meu império se mostrou imbatível.

Gosto de ver a minha bagunça organizada, e ir arrumando tudo aos poucos e notar que meu poder de bagunça é maior que minha capacidade organizativa.

Gosto também de ver que certos hábitos precisam ser deixados para trás, pois eles simplesmente dão mais trabalho do que deveriam. Estou começando a gostar de abrir espaço para coisas novas entrarem, sendo que não consigo me desfazer das velhas, mas tenho feito isso à contragosto, e colhido saborosos frutos.

Gosto quando ela traz coisas e diz assim: ganhei e logo pensei que queria dar pra casinha.

Enfim gosto de estar lá embora tenha pouco tempo pra isso ultimamente. A casinha, ela tem nome, tem vida.

Quero receber a todos lá. A quem ainda não conhece peço desculpas e garanto que isso acontece por falta de tempo/organização/fôlego e que terei prazer em recebê-los em breve.

Alguma hora arrumo tempo também pra dar uma olhada nos meus blogs queridos, dos meus amigos que devem estar borbulhando...

E na hora que a coisa acalmar, volto a postar com regularidade.

Saudades de todos.